ATA DA TRIGÉSIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 12.09.1989.

           

Aos doze dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Sexta Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do título honorífico de Cidadã Emérita à Irmã Haidê Randazzo, concedido através do Projeto de Resolução nº 35/88 (proc. nº 1558/88). Às dezessete horas e dezesseis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Srª. Judith Dutra, representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dom José Mário, Bispo de Rio Grande; Irmã Libera Mezzari, Provincial da Irmãs Escolares de Nossa Senhora; Irmão Avelino Madalozzo, representando a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Sr. Sérgio Decamilis, Presidente do Círculo de Pais e Mestres do Colégio Santa Inês; Irmã Sônia Haidé Randazzo, Homenageada; Ver. Clóvis Brum, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Cyro Martini, em nome das Bancadas do PDT e do PDS, discorreu sobre o trabalho sempre realizado pela Homenageada na área da educação, dizendo ter S.Sa. dedicado sua vida à boa formação de nossos jovens. Contou a história de Santa Inês e de Santo Agostinho, de muita importância para a orientação religiosa do Colégio Santa Inês. O Ver. Clóvis Brum, em nome das Bancadas do PMDB, PT, PCB, PFL, PL e PSB, falou da forte ligação que possui sua família com o Colégio Santa Inês, comentando os motivos que levaram esta Casa a aprovar a presente homenagem. Ressaltou ser ela o reconhecimento da atividade educacional desenvolvida pelo colégio Santa Inês. Atentou para o significado do imigrante italiano para o desenvolvimento do país. Em continuidade, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega, pelo Ver. Clóvis Brum, do Título Honorífico de Cidadã Emérita a Irmã Haidê Randazzo, e concedeu a palavra a S. Sa., que agradeceu o título recebido. Após, foi ouvido número musical apresentado pelo Coral Santa Inês. Às dezoito horas e vinte e quatro minutos, o Sr. Presidente convidou as personalidades e autoridades presentes a passarem à sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às vinte horas. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Clóvis Brum, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Clóvis Brum, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 


O SR. PRESIDENTE: A presente Sessão Solene, destinada à entrega do título honorífico de Cidadã Emérita à Irmã Sônia Haidê Randazzo, foi requerida pelo Ver. Clóvis Brum e aprovada pela unanimidade desta Casa em agosto do ano passado.

Os Vereadores que usarão da palavra serão o Ver. Cyro Martini, representando a Bancada do PDT e a do PDS; e o Ver. Clóvis Brum, autor da proposição, pelas Bancadas do PMDB, seu partido, e demais Partidos PT, PCB, PFL, PL e PSB.

Irmã Sônia Haidê Randazzo, não houve nenhum engano, foi com muita convicção que esta Casa aprovou seu nome. A Irmã estava preocupada, “será que não se enganaram?”, quando ela chegou ao gabinete da Presidência. Não, não houve nenhum engano e o Vereador proponente, firme, fazendo elogios e a maioria dos Vereadores companheiros desta Casa já conheciam e esta Casa ratifica, nesta Sessão Solene, o reconhecimento da comunidade educacional do Rio Grande do Sul e de milhares de alunos que tiveram o privilégio de tê-la como mestre, concedendo, hoje, o título de Cidadã Emérita a nossa querida Irmã. A sua vida de professora e dirigente escolar está dignificando o exemplo de doação a uma notável carreira do magistério. E para falar, em nome do PDT e do PDS, concedemos a palavra ao Ver Cyro Martini.

 

O SR. CYRO MARTINI: (Menciona os componentes da Mesa.) Para o Partido Democrático Trabalhista, ao qual represento neste ato, é motivo de grande satisfação e orgulho em razão da justiça do ato. Em primeiro lugar, justamente pela justiça da oportunidade, pelo reconhecimento do mérito temos que destacar aquele que, em nome desta Casa, soube, em boa hora, requerer o voto de Cidadã Emérita em prol da nossa distinta Irmã Sônia Haidê Randazzo, que o distinto Ver. Clóvis Brum que sempre tem pautado por identificar-se com o povo de Porto Alegre, com as aspirações da gente da Capital.

De outra parte, representando, nesta ocasião, o PDS, eu tenho a honra de trazer palavras do Ver. Vicente Dutra a respeito da concessão deste título à Irmã Sônia Haidê Randazzo. Diz o Vereador o seguinte: “Por motivo de cumprimento de missão de representação externa desta Casa, estarei ausente da Sessão Solene de entrega do Título de Cidadã Emérita a Irmã Sônia Haidê Randazzo. Embora ausente, espiritualmente estarei ligado a este momento em que a Casa do Povo de Porto Alegre, por feliz iniciativa do Colega Ver. Clóvis Brum, homenageia uma personalidade que por todos os motivos se faz merecedora desta honraria. Sei que os pronunciamentos irão ressaltar as magníficas qualidades da Irmã Sônia, demonstrando aos nossos Pares e visitantes a possibilidade de que os dois estados por ela vivenciados, como educadora e religiosa, se completam harmonicamente numa entrega total a sua santa missão.”

Meus senhores e minhas senhoras, jovens, a nossa luta nesta Casa é em favor da solução dos problemas que angustiam os munícipes, desde os problemas mais simples, os problemas mais humildes das Vilas populares até os problemas de grande envergadura relativos à educação, relativos à saúde. Estes problemas que preocupam de um modo geral. Mas, também, esta Casa aqui está para representar o povo nestes atos como o de que hoje estamos participando, no sentido de reconhecer o mérito de alguém que dedica a sua vida à administração escolar, que dedica a sua vida à formação, à educação. Nós estamos falando de alguém de extrema significação, de extrema importância para a nossa sociedade. Eu não falo apenas porque tenho, no Colégio Santa Inês, a minha filha Cibele, que lá está desde os 4 anos, desde o período de creche. Hoje, está cursando a 1ª série do segundo grau. Mas falo porque vejo, através do currículo da Irmã e através do trabalho desenvolvido pelas Irmãs Escolares de Nossa Senhora, cuja congregação foi fundada na Alemanha, em 1833, que é um trabalho que contribui para a boa formação dos nossos jovens, para o engrandecimento da nossa gente, para a melhoria de Porto Alegre. As Irmãs Escolares vieram para o Brasil e, em boa hora, em 1935, foram lá para o interior do Brasil, Criciúma, Forquilhinha, e, de lá, se espalharam por este Brasil. Hoje, têm obras construídas, trabalho realizado por vários Estados do País. Em 1945, organizaram, em Porto Alegre, esta obra magnífica, cuja sede está lá, em Petrópolis, na esquina da Av. Protásio Alves com a rua Felizardo Furtado - o Colégio Santa Inês. Santa Inês tem uma expressão espiritual, religiosa, muito significativa. Romana, jovem de 13 anos, da nobreza, foi compelida a casar-se quando não era tal a sua intenção. Seu propósito era dedicar-se à vida religiosa, condenaram-na, como nos ensina o Colégio Santa Inês, à fogueira. Todavia, a sua fé, a sua devoção religiosa fez com que as labaredas, que deveriam consumi-la no fogo, se apagassem. Esta fé, este milagre é, sem dúvida, um registro da história, e é impressionante, pois sua devoção a salvou. Entretanto, Diocleciano, que, à época, dirigia Roma, não se deu por contente, e fez com que ela fosse morta através das espadas que a trucidaram. Então, ela significa, Santa Inês, a padroeira das jovens, aquela na qual a juventude feminina deve espelhar-se, deve modelar-se a partir daí, na fé, na convicção, no propósito, no endereçamento da vida, num sentido, numa significação maior. Isso tem uma grande significação e uma importância muito grande. Então, quando estamos homenageando a Irmã Sônia Haidê Randazzo, oriunda de Osório, de Conceição do Arroio, pelo sobrenome, provavelmente, das Barras do Ouro, daquela zona, partiu em direção a Taquara, onde se concentram os italianos, nós estamos realizando, repito, um ato de plena justiça. O trabalho dedicado ao magistério, à formação dos jovens, desde pequenos, creche, jardim, 1º e 2º graus, desenvolvidos pelo Santa Inês, tem marcado, tem assinalado, não apenas as famílias residentes em torno da escola, mas as famílias que se alastram por esta Porto Alegre, e durante muitos anos, desde 1946, são anos e anos na formação da juventude porto-alegrense. É um reconhecimento, também, que endereçamos ao Colégio Santa Inês, daquela que vêm dirigindo essa escola desde 1975, a Irmã Sônia. É um trabalho, por outro lado, também, que devemos destacar, a entidade mantenedora que é a Sociedade Literária Caritativa Santo Agostinho; também é uma outra expressão que traz uma lição de vida impressionante, Santo Agostinho, o qual procurou a verdade e a encontrou em Cristo, ao qual dedicou inteiramente a sua vida. E, hoje, dentro da filosofia patrística, da teologia, ao pensamento religioso, católico é um dos doutores da Igreja, junto com outras três expressões.

Então, estamos diante de toda uma cultura, filosofia, de um trabalho que além de pedagógico na formação dos jovens, é um trabalho de cunho de um valor social inestimável, para àqueles que, hoje, vêem o mundo conturbado por várias razões tem que parar para pensar um pouco: e uma das razões pela qual os jovens se perturbam reside, justamente, na falta de orientação, de um ponto de fixação através do qual a personalidade do adolescente possa desabrochar com força, vigor; a conturbação causada por pensamentos diversificados, se não perturbados não levam a nada em termos pedagógicos, quando a escola tem uma posição definida e clara de formação cristã, mais exatamente, de formação católica, isso abre caminho para que a criança tenha onde segurar-se para chegar à adolescência com uma personalidade capaz, equilibrada, é verdade que sem tolher a sua liberdade, o seu poder de crítica. E, isto é de extrema importância, muito significativo este trabalho. Vejam o que é preciso, é uma das falhas da escola moderna, de um modo geral, justamente a falta de uma orientação filosófica ou religiosa por parte da escola. Os pensamentos multifacetados, multiformes, se não confusos não levam a criança a uma praia segura, deixam-na perdida no caminho sem saber o que fazer, mas quando tomamos uma orientação cristã, uma orientação católica, onde através da colocação da verdade de Cristo nós podemos a partir daí endereçar, fazer com que a criança, o jovem se encaminhem melhor na vida. Por isto nós temos que homenagear também nesta oportunidade o Ver. Clóvis Brum; nós temos que homenagear também nesta oportunidade a Presidência desta Casa, o Ver. Valdir Fraga. Nós temos que homenagear os Vereadores porque eles souberam, excluindo este modesto que vos fala, souberam reconhecer o valor do trabalho do Santa Inês, souberam reconhecer o valor inestimável do trabalho da Irmã Sônia Randazzo e por isto o título é mais do que justo, o título de Cidadã Emérita, está um belíssimas mãos, vai santificar um título modesto de Cidadã Emérita vai torná-lo santo e para nós isto é muito importante também. Muito obrigado pela atenção. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum que falará em nome da sua Bancada, o PMDB, e das demais Bancadas: PT, PCB, PFL, PL e PSB.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Ilustre companheiro Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Srª Judith Dutra, representando neste ato o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Dr. Olívio Dutra; Dom José Mário, Bispo de Rio Grande; Irmã e amiga Líbera Mezzari, Provincial das Irmãs Escolas de Nossa Senhora, sempre presente às nossas atividades; Irmão Avelino Medalozzo, representando a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; meu Presidente da Associação do Círculo de Pais e Mestres do Santa Inês, Sérgio Decamilis; queridíssima homenageada Irmã Sônia Randazzo. Meus Senhores, minhas senhoras, estudantes do Colégio Santa Inês, é muito difícil para mim fazer um discurso numa oportunidade como esta, aonde a homenageada significa uma pessoa por demais ligada a minha vida familiar. Quando eu digo, por demais ligada a minha vida familiar, Irmã Sônia, eu quero me reportar à Eulália, a Isabel Cristina, à Luciana, à Fabiana e à Catiana, a minha mulher e as minhas quatro filhas, das quais ainda resta uma estudando lá no Santa Inês, as demais concluíram o primeiro grau e foram fazer o Magistério. Então, a Irmã Sônia, assim, vai me perdoar, eu não tenho as condições de ler esse discurso, desejo apenas transmitir à senhora a gratidão mais reconhecida da Câmara de Porto Alegre, e eu faço também os meus agradecimentos aos Vereadores que aprovaram este Projeto de Resolução instituindo o título de Cidadã Emérita à Senhora, na certeza de que efetivamente a Câmara reconhece as virtudes e os valores que norteiam a sua vida religiosa, a sua vida de professora, de diretora, de abnegada. Eu diria, olhando a Irmã Julia lá no fundo, que efetivamente para nós todos, homenagear a Irmã Sônia é algo muito especial. Se a homenagem fosse política, de alguém que não conhece o dia-a-dia do Colégio Santa Inês, de alguém que não conhece o trabalho da Irmã Sônia, Irmã Líbera, de alguém que não conhece o trabalho de sua equipe, das demais Irmãs, aí se poderia dizer: é um título a mais que está-se entregando nesta tarde. Absolutamente. Quando nós propusemos à Casa a concessão deste título, este Projeto andou em todas as Comissões Técnicas recebendo pareceres de Vereadores, todos foram favoráveis, porque havia uma linha de sustentação à proposição apresentada. Partia exatamente de um homem que tem conhecimento pleno do trabalho do Colégio Santa Inês. E mais do que isto, Irmã Sônia, quando alguém pergunta a um pai ou a uma mãe em que escola estudam os seus filhos, há dois tipos de resposta: “Ah, o meu filho estuda no... numa escola... no colégio” e diz até em voz baixa o nome da escola. Pois saibam que a minha resposta é diferente. Eu sou um orgulhoso quando me perguntam em que escola estudou a Isabela, a Luciana, a Fabiana. Eu respondo: “estudaram no Colégio Santa Inês”. É lá que forjaram o seu caráter de jovens, é lá que aprenderam, é lá que se prepararam para enfrentar o magistério, e enfrentar agora a faculdade. O Colégio Santa Inês representa hoje, por todos os seus méritos, pela sua qualidade de ensino, pelo seu papel importante jogado no preparo dos jovens, uma escola de profunda significação social nesta tarefa. A nossa homenageada, dizia o Ver. Cyro Martini, o Ver. Cyro Martini foi muito feliz e me cutucou de vara curta: “A nossa homenageada é descendente de italiano”. E é verdade, em 1935, em Forquilhinha, Santa Catarina, chegavam as primeiras enviadas da Congregação, Congregação essa fundada na Alemanha pela Madre Tereza de Jesus, em 1833, e as suas obras se multiplicaram neste País. Mas, eu dizia que o Ver. Cyro Martini foi muito feliz quando falou sobre a origem da Irmã Sônia. Pois, eu até vou ler algo sobre os antepassados da Irmã Sônia. Eu diria, Irmã Sônia, que esta Pátria se fez no tempo, aspirando à eternidade; plasmou seu povo, criou sua nacionalidade no mesmo e imenso laboratório que se caldearam todas as raças que aqui aportaram, fundindo em todos nós o somatório das virtudes desses povos. E, entre essas raças, está o povo italiano, que aqui chegou e, desde então, passou a contribuir com as artes, com a cultura, com as ciências, com a indústria e com a agricultura. A Irmã Sônia teve os seus avós vindos da longínqua Itália e fizeram do Brasil a sua Pátria. Sabemos que no imigrante fundamenta-se nossa origem como povo; homens que alcançaram uma pátria ainda vazia; interlocutores do silêncio, porém, com a audição do invisível e com a visão de quem a sonhava grande por sabê-la generosa e acolhedora; homens sem tempo para tristezas, nos quais, as próprias dores físicas ou morais se faziam discretas, sem choro alto. Os antepassados, os avós da Irmã Sônia, ao lado de outros imigrantes, foram os responsáveis por este País grande que é hoje o Brasil. Lentamente, forjavam uma nova pátria, davam origem a um novo povo. No início, só lhes restava, como condição de felicidade, o trabalho duro, sem tempo para sofrer e, por fim, construíram, renovada, a nação emergente. Havia espaços; olhava-se para cima e via-se todo o céu de uma só vez; o nascente avermelhava-se feito braseiro, era o céu que os olhava com seu olho de sol e este crescia e enchia de luz os caminhos ásperos, por vezes pontilhados com as cruzes daqueles que sucumbiam ao longo da jornada. Era a luz que iluminava a tarefa do povo italiano transformando pântanos em terra firme, morro em férteis colinas, vilarejos em cidades industriais e, com sua experiência humana e religiosa, templos e escolas. Tudo isso, hoje, devidamente integrado à sociedade. Irmã Sônia, para as pessoas que se abandonam na realização do bem-estar social e coletivo, principalmente porque vivemos nessa sociedade impessoal que caracteriza o mundo moderno, devemos o nosso agradecimento e a nossa homenagem sempre redobrada, pois são em pessoas com virtudes tais quais as da Senhora, Irmã Sônia, que a nossa sociedade poderia buscar o exemplo, são pessoas com as virtudes da Irmã Sônia que ajudam decisivamente na formação dos jovens, que inspiram, a todo momento, as mais belas virtudes, são pessoas da qualidade da Irmã Sônia que orgulham qualquer Câmara Municipal de Vereadores. E agora, nesse momento e nesta hora, na Câmara Municipal de Porto Alegre, há um ato como este, há um ato de concessão de um título como este. Poder-se-ia dizer que a Casa está engalanada de triunfos, porque pode recolher e ter aqui, Bispo Mário, a pessoa da Irmã Sônia que ainda tem uma missão muito grande a cumprir e em que pesem os tropeços da sua saúde, hoje totalmente restabelecida, graças a Deus, ainda temos muito o que fazer, a Senhora ainda tem muito o que fazer pelos alunos do Santa Inês! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, a Câmara confere o título de Cidadã Emérita à Irmã Sônia Randazzo, pelos trabalhos em prol da sociedade porto-alegrense. Convido o Ver. Clóvis Brum para fazer a entrega do diploma em nome da Casa, em nome da Cidade a nossa querida homenageada e solicito que os presentes, de pé, acompanhem a entrega do referido título.

 

(O Sr. Clóvis Brum faz a entrega do diploma à Irmã Sônia Randazzo.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra a nossa homenageada, Irmã Sônia Haidê Randazzo, que nos perguntou se falaria aqui da Mesa ou da tribuna. Ela preferiu a tribuna para fazer um teste, porque, nas próximas eleições, ela poderá, até, concorrer a uma Cadeira aqui na Câmara.

 

A SRA. IRMÃ SÔNIA HAIDÊ RANDAZZO: Se é um teste, vou iniciar com mais preocupação. Mas queria, primeiramente, dizer que após dois brilhantes oradores, cujas filhas estão lá no Colégio e acredito tenham igual talento, me senti muito pequena, por este motivo escolhi a tribuna, porque aqui fico de pé.

Exmo Sr. Presidente da Câmara de Vereadores, Ver. Valdir Fraga; Exmo Sr. Ver. Clóvis Brum; Exmo Sr. Ver. Cyro Martini; prezados amigos; pais; professores; alunos; minhas irmãs e meu cunhado também, demais presentes.

Foi com sentimento de humildade que cheguei hoje aqui na Câmara e quando o Ver. Valdir Fraga me disse, quando eu lhe perguntei se não havia engano na comunicação que eu recebi de ter sido agraciada com este título honroso de Cidadã porto-alegrense, pois pareceu-me que é uma distinção pouco comum na vida de uma religiosa, porque o nosso trabalho, tanto o meu como de algumas religiosas, tirando títulos especiais como Madre Teresa de Jesus, nossa fundadora, é um trabalho que transcorre no dia-a-dia e que deve ser assim mesmo. Achei que não tinha nada que merecesse este título. Conversando, porém, com o Ver. Clóvis Brum, como um amigo, ele me disse que, através da minha pessoa, a Câmara pretendia homenagear este trabalho realizado pela equipe, pelo grupo, pelas Irmãs, pelas educadoras religiosas, então, quando vi que era o trabalho educacional que o Colégio Santa Inês realiza através das Irmãs Escolares de Nossa Senhora e que este era o motivo da homenagem, então, realmente, daí para a frente não fiquei mais preocupada e me senti honrada com essa distinção e pensei que são 30 anos ininterruptos que estou trabalhando no Santa Inês, fora alguns anos antes destes, quando Irmã ainda não era, espero que Deus me conceda saúde e força para continuar por muito tempo, enquanto for necessário o meu trabalho, enquanto ele for também proveitoso.

O modelo educacional da minha congregação religiosa, Irmãs Escolares de Nossa Senhora, nos foi legado pela fundadora, Madre Teresa de Jesus Gerhardinger, cujas idéias educacionais são hoje ainda inteiramente atuais, já que seus princípios se baseavam na educação integral da pessoa. Como ela, acreditamos que a mudança só acontece pela transformação da pessoa e essa transformação ocorre através da educação.

Estamos hoje há 156 anos da fundação de nossa Congregação; foi na Alemanha e nós estamos no Brasil - era em 1833 e hoje é 1989 - no entanto, o panorama global da situação do mundo de então, nos diversos aspectos e níveis, guardando as respectivas proporções, não é tão diverso hoje.

Estamos vivendo crises, mudanças, transformações, dificuldades e esperanças. Vemos sinais positivos de crescimento, desafios e perspectivas de construir uma nova ordem global, cuja chave se encontra, sem sombra de dúvida, na educação.

O mundo precisa, de modo acentuado nos dias atuais de educadores que possam ensinar sobre o mundo como um sistema vivo, de educadores que possam fortalecer as pessoas através de uma conscientização global e com uma espiritualidade global.

Nossa Congregação foi fundada para atender especificamente aos pobres, através da educação. Mas todos sabemos que dar comida aos pobres hoje, não é suficiente, porque amanhã eles estarão com fome de novo. Deve-se procurar mudar as condições sociais e morais que criam a pobreza material e espiritual.

A estratégia para conseguir essa mudança é a educação. No tempo de nossa fundadora, era especialmente a educação feminina; hoje, alunos de ambos os sexos freqüentam nossas escolas, tal, como no Colégio Santa Inês.

Essas mudanças são também características de nossos dias. Estamos testemunhando o nascimento de uma nova era - não é apenas um novo milênio - mas vivemos uma transição histórica que requer novos modelos de pensar e agir. Podemos dizer que estamos - “entre tempos” - uma época entre uma idade que está morrendo e uma nova era que está nascendo.

Sistemas velhos e visões de mundo estão quebrando sob a pressão de realidades mundiais em mudança. E novos sistemas e visões de mundo é preciso que sejam suficientemente eficientes para resolver com justiça e paz os novos problemas econômicos, políticos, tecnológicos e ambientais que enfrentamos e devemos desenvolver.

Este limiar da última década do século, é uma época muito vulnerável, uma época perigosa, uma época de superar crises e conflitos, uma época em que a vida, como sabemos, pode ser destruída.

É também uma época muito criativa, uma época em que somos desafiados a uma nova maturidade de objetivos e visão.

E é justamente no campo da educação que se deve manter sempre uma visão de esperança nas possibilidades latentes e existentes nas crianças e jovens que freqüentam o espaço escolar.

Sabemos de nossas limitações para acompanhar o crescimento e alargamento dos horizontes das gerações novas. Sabemos que a educação deve buscar sempre maior eficiência; e não apenas eficiência; os educadores precisam continuar também seu desenvolvimento, e ser continuamente informados pelos valores de dignidade humana, justiça e paz, para continuarem a ser úteis e fecundos.

Como educadores, percebemos nossa dependência comum de uma terra, de uma cidade, de uma bairro e, simultaneamente, nossa mútua interdependência de um com o outro. Damos mais ênfase à solidariedade, participação, comunidade horizontal do que ao próprio relacionamento hierárquico; nessa visão de educação, enfatiza-se também a saúde e integridade das pessoas e de nosso planeta Terra.

Sentimo-nos desafiados a vencer os obstáculos à ação educativa em âmbito integral. Na realidade, o maior desafio diante de nós é o desafio da criatividade. Alguém até já disse que “uma falta de criatividade agora, seria uma falha de maior grandeza”.

A educação escolar busca alternativas criativas em todos os níveis, em escala pequena de famílias e comunidades e na escala maior da comunidade mundial.

Como Irmãs Escolares de Nossa Senhora, Congregação internacional dedicada à educação em escolas e em outras áreas de necessidade urgente, trabalhando em dezenas de países e em vários continentes, somos sensíveis ao que acontece globalmente, pois sabemos que afeta a todos nós, localmente. Nos alegramos por pertencer a uma numerosa família de educadoras e sabemos que o trabalho em favor da paz e desarmamento, da justiça econômica, de novas leis ecológicas e alimentícias, uma nova ordem econômica internacional, são exigências mundiais que requerem estratégias locais e globais. Diz bem quem afirma: “Pense globalmente e aja localmente”.

Precisamos agir localmente, mas também precisamos agir globalmente. E é no agir quotidiano de uma escola que se realizam ambos os objetivos. É lento o processo educacional - vemos as crianças do maternal, dia por dia, irem crescendo, passando pelas diversas fases vitais, e um belo dia, eis as crianças transformados em jovens; mais um pouco, vêmo-las adultas, pais e mães responsáveis, cidadãos de nossa pátria. É justamente nestas silenciosas mudanças físicas, que podemos acreditar no valor da educação como força sanadora e sinal de esperança num mundo quebrado.

A educação, bem como a criação, não é uma realidade estática. Ela é contínua, dinâmica, sempre se formando, sempre acontecendo.

Por isso mesmo, nenhum educador, nenhuma escola, por si só, é capaz de atingir plenamente seus objetivos educacionais. Precisamos uns dos outros. Precisamos trabalhar em conjunto com as famílias, as comunidades, as organizações, as instituições.

Como nossa fundadora, Madre Teresa de Jesus Gerhardinger, acreditamos que a forma do amanhã de nossos educandos, depende da qualidade e valores das pessoas envolvidas hoje nos processos transformadores.

Confiamos que essas qualidades e esses valores sejam sadios, confiáveis, voltados para uma visão de esperança. É essa esperança que nos impulsiona sempre. E vemos sinais de esperança em toda parte.

Encontra-se esperança nos movimentos ecumênicos, no desabrochar de movimentos de povos em toda parte do mundo, lutando pelos direitos e dignidade humana, mais paz e justiça; vemos esperança no olhar puro da criança ou no olhar sofrido do ancião; vemos esperança renovada cada dia, no ritmo dos passos dos estudantes, no som de suas vozes buliçosas na sua confiança perante a postura, as palavras e a figura dos seus professores. Vemos esperança em cada pai e mãe que confiam suas jóias mais preciosas - seus filhos - à instituição escolar. Vemos esperança no valoroso grupo de professores e funcionários de Colégio Santa Inês, que procuram, com o melhor de suas forças, serem os artífices do futuro de nossos alunos.

O título de cidadã porto-alegrense que hoje recebo, devo-o em grande parte a eles - professores, Irmãs, funcionários - que, no Colégio Santa Inês, onde estou desde 1952, seguiram e seguem o mesmo ideal educativo, repleto de dificuldades, porém esperançoso e confiante. Retrata bem a tarefa do educador, uma frase de nossa fundadora, Madre Teresa de Jesus Gerhardinger: “As Obras de Deus se realizam devagar e no sofrimento, mas suas raízes se firmam e desabrocham em flores esplêndidas”.

Senhores, para uma escola realizar seus objetivos, é indispensável o apoio e a confiança dos senhores pais os quais, graças a Deus, não nos têm faltado durante os 43 anos de existência do Santa Inês. Entre estes pais, está o amigo e Ver. Dr. Clóvis Brum, que tomou a iniciativa desta homenagem. A ele e aos demais integrantes desta Câmara, meu muito obrigada, pela distinção que hoje aqui me é conferida. Também quero agradecer em meu nome e no das Irmãs Escolares de Nossa Senhora a presença de tantos amigos, hoje aqui. Quero terminar com as palavras de um pedagogo, Rubem Alves, sobre a grande companheira dos educadores - a Esperança.

“O que é a esperança? É o pressentimento de que a imaginação é mais real e a realidade menos real do que parece.

É a impressão de que a brutalidade dos fatos que oprimem não seja a última palavra. É a suspeita de que a realidade seja mais complexa do que o realismo deseja que acreditemos que as fronteiras do possível não sejam determinadas pelas fronteiras da realidade e que, de uma forma milagrosa e inesperada, a vida esteja preparando os acontecimentos criativos que abrirão o caminho para a liberdade e ressurreição.

Ambos, sofrimento e esperança, moram juntos. Sofrimento sem esperança, produz ressentimento e desespero. Esperança sem sofrimento, cria ilusões, ingenuidade, embriaguês.

Vamos plantar tâmaras, embora aqueles que as plantam, jamais as comam... precisamos viver pelo amor daquilo que nunca vamos ver”.

Esta é a disciplina secreta que dá alento e conserva a vida a todo verdadeiro educador. Esta, a esperança que nos anima. Senhores, muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

(Execução de número musical apresentado pelo Coral Santa Inês.)

 

O SR. PRESIDENTE (Clóvis Brum): Em nome do Ver. Valdir Fraga, Presidente desta Casa, agradecemos a presença de todos os convidados, das Irmãs, professores, pais e alunos do Colégio Santa Inês que vieram prestigiar esta Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h24min.)

 

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